Texto de Monique Sé de Castro
Seja qual for o ambiente esportivo, a liberdade de escolha, a responsabilidade para com tais escolhas e o valor destas escolhas para os atletas são continuamente vivenciados, porém, nem sempre verificados. As pessoas parecem não notar que escolhem tudo o tempo todo, incluindo a si mesmas, sempre. E até aquele que diz "eu não escolhi nada", quando viu, já escolheu... Levantou da cama (ou não – pode não querer levantar), escovou o dente, tomou banho (ou não – é uma possibilidade) se alimentou... QUANTAS ESCOLHAS VOCÊ FEZ HOJE?
Será que aquele que assume a responsabilidade sobre sua opção de ser-atleta obtém vantagens sobre os que não se dão conta de que estão se escolhendo a cada minuto? O atleta comprometido com suas escolhas, possivelmente, apresenta um comprometimento maior com suas tarefas, um aperfeiçoamento no desempenho realizado e esperado por este e, principalmente, mais resistência para aceitar as conseqüências dos caminhos escolhidos. Talvez valorize mais suas possibilidades e, por isso, permite-se dar novos sentidos à maneira como está se construindo.
Parece cruel, ser livre para fazer escolhas, não poder não se responsabilizar por isso e, ainda, assumir as conseqüências destas escolhas, sem a suficiente clareza do quanto elas afetam. Esta é uma maneira de pensar dentro do “existencialismo de Sartre” , no qual o homem é responsável pelo que é, e é livre de qualquer causa que possa determinar sua ação, pois tem seu caminho nas próprias mãos. Tudo vai depender do sentido que se dá para cada situação, para a experiência, para os atos, etc. O fato é que você se escolhe a cada momento, vai agindo e se criando pelo ato, só existe na medida em que se realiza e não é mais do que o conjunto dos seus atos.
Por exemplo, no futebol, mesmo que levado pelos pais, o menino está se escolhendo, ainda que não se dê conta disso. Está abrindo mão de outras possibilidades e vai existindo, simplesmente agindo e se fazendo atleta. Num dado momento, ele se dá conta do tempo que dedicou para a atividade e é angustiante sentir, mesmo que sem clareza, o ‘fardo’ da liberdade, que o permitiu fazer esta escolha, e, ao mesmo tempo, sentir o peso da obrigatoriedade de ser o único responsável pelo seu ser. Para descobrir essa liberdade basta entender minha possibilidade de escolha, pois a liberdade não está em se fazer o que quer, mas em se querer o que pode. E isso implica, necessariamente, me responsabilizar pelo próprio destino, aceitando que minhas escolhas possam me trazer possibilidades do bem e/ou do mal. Ser livre é isto! Implica em ter que dar sentido ao próprio ser e se responsabilizar por tudo quanto fizer.
Causa desamparo ter que escolher sem garantias da existência. Como saber se a escolha feita foi a melhor? Nada a fundamenta e ela só é melhor porque foi a escolhida. Por isso, as condutas não passam de possíveis.
Viver conflitos é escolher-se através deles e escolhê-los através da própria escolha de si mesmo. Ao assumir seus conflitos, escolhe-se e se faz, pois nada alheio determinou aquilo que sentem, vivem ou são. Se serão anos de vazio ou anos de conquistas e aprendizados, a responsabilidade é sua, o sentido será dado por você, só dependerá da maneira como você quer ver...
Compreender que temos tudo nas “mãos”, realmente não é fácil, mas é preciso, porque trata-se da construção de cada história. No futuro, é possível que conte aos seus filhos e netos: “fui atleta, na mesma época em que houve o Pan-Americano, no Rio de Janeiro”. Ninguém poderá lhe tirar isto, fará parte de sua história e terá sido a escolha de ser e o fazer-se nesta escolha .
É preciso pensar nas próprias possibilidades, em todas, incluindo aquelas que não agradam. Por exemplo, pensar em fim de carreira dói mesmo, afinal, foram anos de abdicações (uma escolha implica, necessariamente, abdicar de outra(s)). Mas é uma possibilidade e pensar nas possibilidades pode ser um “bom caminho” para fazer escolhas mais funcionais para sua vida. É preciso se comprometer, pois, por mais que tente, ninguém vai se livrar, nem sequer por um instante, desta responsabilidade. E querer se livrar dela também trará implicações, pois também é uma escolha. É impossível não escolher. Não fazer nada já é uma escolha.
Lamentar , por um lado, pode ser enganar-se, tentar transferir a responsabilidade... Por outro lado, pode ser o questionar-se, do ponto de vista da própria manifestação da liberdade e não da comodidade. Cabe ao psicólogo investigar o quanto as lamentações são um auto-engano ou apenas uma reivindicação pertinente e apropriada. É importante saber o que esses jovens estão fazendo com suas insatisfações. Por que preferem certos valores ao valor da própria recusa? Por querer a estima dos parentes ou por querer dar o melhor para a família, ser famoso, ou por covardia frente à opinião dos outros? A pessoa-atleta, mesmo com as dificuldades e injustiças, escolheu ser atleta e essa escolha será repetida, continuamente, até o fim da carreira. Desistir é uma possibilidade, ele pode fazer com que tal realidade planejada não venha a existir. Mesmo que coagido a continuar, não poderá ter sua liberdade dominada e, ainda, será responsável pela forma como viverá nesta realidade.
A relação entre escolha e valor é “gritante” e, ao mesmo tempo, preocupante, porque o preço é alto para determinadas escolhas. Atletas são tratados como mercadorias (vendidos, dispensados, emprestados,...). São objetos consumíveis ! Vantagem leva os que se recusam a valorizar apenas os resultados e percebem as vitórias como apenas uma conseqüência de um conjunto (eficiência de todos os envolvidos, dedicação, cooperação, etc.) e procuram se concentrar na superação dos próprios limites.
Referências
1 - BERESFORD, HERON. Valor: saiba o que é. Rio de Janeiro: Shape, 1999.
2 - CAPINUSSÚ, J. M. “Manifestações Interdisciplinares no Esporte”. Revista de Educação Física – Ano 1, Nº 1, p. 52 – 57. Rio de Janeiro: DPEP, 2006.
3 - FEIJÓ, OLAVO G. Corpo e Movimento. Uma Psicologia para o Esporte. Rio de Janeiro: Shape, 1992.
4 - PERDIGÃO, P. Existência e Liberdade: uma introdução à filosofia de Sartre. Porto Alegre: L&PM, 1995.
5 - RUBIO, KATIA. “Ética e Compromisso Social na Psicologia do Esporte”. Psicologia Ciência e Profissão – Ano 27, Nº 2, p. 304 – 315. Brasília: Conselho Federal de Psicologia, 2007.
6 - SARTRE, J. O Ser e o Nada: ensaio de fenomenologia ontológica. Tradução e notas de Paulo Perdigão. 10. Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
7 - SILVA, F. LEOPOLDO E. “Desejo de Ser”. Viver: mente&cérebro – AnoXIV, Nº 156, p. 86 – 93. São Paulo: Duetto, 2006.
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O VALOR DA ESCOLHA PARA O ATLETA
Postado por Psicologia do Flamengo
Marcadores: escolha, esporte, Fenomenologia
3 comentários:
Achei o texto muito interessante. Boa escolha de tema.
Que textoo magnifico..
um tema q concerteza pode ajudar a muitas pessoas ..
nos faz pensar nas escolhas que fazemos a cada dia,é smp bom um texto desse tipo p/ podermos analisar a nossa vida .. o nosso cotidianoo em geral .
Parabéns Monique ..
Ameiiiiiiiiiiiiiiiiii =)
Quee textoo magnificoo ..
escolher nem sempre é tão fácil,e vc abordou o assuntoo muito bem.
Parabéns Monique.
Excelente trabalho =)
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