por Paulo Ribeiro, Psicólogo do Futebol Profissional
Um momento importante no futebol de nosso país. Não teríamos circunstancia mais importante para uma mudança de paradigma total na relação clube/ atleta / comissões técnicas/ dirigentes. Já faz tempo que no Flamengo falamos desse assunto. Ano passado tentamos mobilizar as divisões de base do nosso clube na tentativa de rever alguns comportamentos que não cabiam mais por parte de alguns atletas. Reunimos as comissões técnicas e a coordenação da base e qual foi nossa surpresa ? Todos ouviram nossas ponderações e trataram logo de se defender dizendo que estávamos duvidando do trabalho de cada um deles, que estávamos os colocando em xeque e também sua autoridade. Ora bolas amigos, não fizemos nada mais do que colocar no espelho, um grupo de pessoas que não estavam comprometidas com algo maior, com algo para alem da simples conquista de um campeonato. Nosso intuito era rever nossa metodologia, nossas intervenções, nossos procedimentos e nossos objetivos para com um garoto de 12 ou 13 anos por exemplo.
Hoje em algumas escolas públicas, ouço relatos de professores acuados, ameaçados e destratados por alunos, por fazer valer sua autoridade em sala de aula. Conheço professores que ouviram a seguinte pérola: Cuidado professor que te furo todo com uma faca hein. Ou ainda : Te esperamos la na passarela da escola e você vai ver... O que é isso meus amigos, onde estamos? O pior é que essa é uma realidade cada vez mais presente no dia a dia desses ilustres profissionais. Da mesma forma, recebemos hoje atletas que não suportam ser chamados a atenção, que não admitem ser corrigidos em suas posturas e atitudes e por ai vai. Daí tentarmos ano passado, sem sucesso, criar uma outra mentalidade na cabeça dos que com certeza tem na mão, a caneta e o poder para mudar uma situação hoje, insuportável.
Deixo bem claro aqui que a Psicologia do Esporte esta comprometida com o bem estar global do atleta. As palestras ministradas, os atendimentos individuais celebrados, as reuniões com as comissões técnicas e as dinâmicas de grupo visam mobilizar tais atletas para um lugar de organização de pensamentos e ideias, socialização, respeito ao próximo, cuidados com a imagem, com as atitudes e tudo mais que se refere à verdadeira importância de estar num clube de ponta como o Flamengo, ou o Vasco, São Paulo, Corintians, Fluminense, etc... Mostrando isso aos atletas estaremos proporcionando a eles, momentos de reflexão, de tomada de postura e de otimização de sua performance esportiva, através da mudança nos pensamentos e nas suas crenças. Conseguimos efetivamente com que uma maioria de atletas aproveitem esses ensinamentos para suas vidas, haja vista a historia de atletas que alcançaram a fama e o sucesso com calma, tranquilidade e responsabilidade sobretudo. Mas outros nos apontam para a evolução de algumas crenças para certezas. Certezas de que não tem limites, de que tudo podem e que nada lhes acontece. Esses atletas certamente nao são o retrato de uma maioria vencedora e dignas de palmas por sua trajetoria.
A diferença entre um e outro esta exatamente na forma como foram concedidas algumas regalias próprias de quem se tornou craque, de quem se tornou referencia, de quem se tornou modelo de alguma coisa. O problema então reside nos limites que as autoridades dos clubes impõem ou não para concessão de tal merecimento. Portanto com isso quero aqui deixar claro que em nenhum momento estamos nos furtanto a dar a cara a tapa de nossa participação em todo esse processo, mas quero apontar para os limites de nossa atuação, que certamente esbarram nas vaidades e descrenças de treinadores, preparadores físicos, dirigentes e médicos no que diz respeito ao trabalho do psicólogo. Não queremos tomar o lugar de ninguém e sim queremos ser um elo a mais nessa engrenagem dificil, cansativa e complicada que se tornou administrar a relação clube / atleta. Não basta somente lidar com a melhoria da performance de um jogador. Nosso trabalho esta cada vez mais inserido e exigido dentro do complexo chamado comissão técnica. Aprendam isso de uma vez por todas. Não sobrevivemos sem informação. Se por exemplo um treinador de goleiros guarda pra si todo fato relevante do seu dia a dia com seu goleiro, de nada servirá a intervenção de um profissional da psicologia do esporte. Por essas e por outras convido vocês a refletir um pouco sobre o escrito acima para juntos mudarmos esse paradgima já tão viciado em nosso meio.
Um forte abraço
Paulo Ribeiro
Psicologo Futebol Profissional do Flamengo
Um comentário:
Infelizmente Paulo, a Veja não postará sua carta. Li a reportagem sobre o Flamengo e o imenso desrespeito à nossa carreira de psicologia. Sou graduando de psicologia e torcedor do Flamengo e foi triste ler um repórter perguntar para um advogado sobre a atuação do psicólogo no clube. Não tiveram respeito ao profissional e muito menos à profissão. Mas já tive a oportunidade de participar de palestras suas e de toda a equipe do Flamengo e percebi que não seremos afetados por ignorâncias.
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