Porém, o mundo do futebol vem evidenciando o que os cientistas sociais observam há mais de 40 anos: a flexibilidade dos laços interpessoais. Zygmunt Bauman (1999) traz em sua obra uma análise acerca da modernidade mostrando que o ser humano do fim do século XX e início do século XXI não tem laços rígidos (solidificados) tão fortes quanto se tinha em meados do século passado. As famílias se encontram menos, as pessoas preferem experimentar marcas diferentes (ou seja, há menos fidelidade a um produto), os casais se separam mais, há mais discussões nas ruas, no trânsito e menos tolerância com as escolhas dos outros. Significa dizer, que há uma flexibilidade nas ações das pessoas maior que no passado e, ao mesmo tempo, uma falta de laços com o presente.
O futebol não é um ambiente dissociado da sociedade, pelo contrário, é formado por instituições humanas e controladas por uma dinâmica que se configura a partir da própria sociedade em que está inserida. Quando vemos um atleta deixar o clube que o projetou por outro em um país sem qualquer tradição futebolística, perguntamo-nos a causa e o que passa na cabeça daquele rapaz. Porém, este comportamento é reflexo de uma sociedade cujos laços se perdem com facilidade, se criam e se dissolvem rapidamente, são líquidos e passam como rios, mas que nossos corações não se deixam levar (Mestre Paulinho da Viola perdoe o trocadilho).
A sociedade está assim e o futebol é apenas um segmento social que, no Brasil, tem mais projeção midiática. Portanto, não é o que o atleta pensou quando nos deixou, mas a forma como temos tratado uns aos outros. Pense nisso!
Referência:
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Ambivalência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1999.
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